A escultura evoca a imagem simbólica de uma embarcação ancestral cortando as águas do tempo. Feita a partir de madeira bruta e pedra, a peça apresenta uma composição orgânica e expressiva, onde formas irregulares e vazadas sugerem movimento, fragilidade e resistência.
A base da escultura, em pedra arenosa de coloração terrosa, funciona como uma espécie de casco — sólido, achatado, com aspecto de matéria geológica moldada pelo tempo. Sobre ela repousa a madeira, cujo corpo lembra uma nau em ruínas ou uma caravela em batalha com o mar. As curvas, fendas e reentrâncias da madeira lembram velas rasgadas ao vento e estruturas corroídas, mas ainda altivas. Essa superfície irregular e texturizada transmite uma sensação de história vivida, como se cada detalhe carregasse memórias de jornadas passadas.
Na parte superior, fragmentos pontiagudos e ascendentes evocam mastros, figuras de proa ou até criaturas marinhas emergindo da madeira. As formas parecem simultaneamente orgânicas e míticas, misturando realidade e fantasia — como se a nau fosse também um animal ou uma lenda em forma escultórica.
Trata-se, em essência, de uma embarcação metafórica: uma escultura que, embora imóvel, sugere travessia constante.